Crianças e adolescentes e o uso dos celulares, a partir de qual idade?


É crescente a quantidade de aplicativos, vídeos e imagens voltados para o público infantil e adolescente produzidos pelas empresas de entretenimento e tecnologias da informação e disseminados por meio da internet. Esses materiais são criados sem qualquer reflexão mais profunda sobre as fases e os significados do desenvolvimento cerebral e mental das crianças e dos adolescentes.

Pesquisa realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação em 2017, com cerca de 4 mil crianças e adolescentes com idade entre 9 e 17 anos, apontou que 85% acessavam a internet e 93% entravam na rede pelo celular, o que equivale a mais de 23 milhões de crianças e adolescentes nas 5 regiões brasileiras. Esse número aponta uma tendência que vem aumentando: o acesso cada vez mais frequente dessa faixa etária à internet e ao telefone celular. Diante desse cenário, muitos pais ficam em dúvida sobre o momento adequado para permitir o acesso dos filhos aos smartphones.

Pesquisas comprovam que, além de alguns benefícios por ter a possibilidade de conexão através dos celulares ou smartphones na palma da mão, existem danos à saúde para crianças e adolescentes. Certos jogos eletrônicos e aplicativos podem estimular violência, intolerância, ódio e discriminação on-line. Crianças e adolescentes estão em fase de crescimento e desenvolvimento cerebral e mental e os estímulos externos se traduzem em percepções e respostas na memória, concentração, produção hormonal e de neurotransmissores. Esses, por sua vez, irão repercutir nos comportamentos e nas atitudes do dia a dia, podendo se transformar em hábitos e estilos de vida a seguir.

Desenvolvimento

Crianças menores de dois anos necessitam de interação com seus pais, familiares e social para o desenvolvimento de suas habilidades cognitivas, motoras, linguísticas e socioemocionais. Portanto, está contraindicada a exposição às telas, tanto de televisão como de celulares e notebooks.

Dos 3 aos 5 anos a criança começa o aprimoramento de muitas tarefas cognitivas e do relacionamento familiar, geralmente tem início também a exposição pelos pais a desenhos animados, joguinhos e vídeos. É essencial que haja sempre um adulto supervisionando esse tipo de atividade e que essa interação com telas não ultrapasse de meia hora até 1h por dia.

Dos 6 aos 10 anos as crianças iniciam a alfabetização e entendem melhor as regras de convivência familiar e escolar. Nessa fase já pode ser falado sobre os riscos de desafios on-line e brincadeiras perigosas e a importância de comunicar aos pais o recebimento de qualquer mensagem desse tipo. Mesmo assim, o tempo de telas não deverá ultrapassar 1-2 horas/dia.

Estipule um período

A Sociedade Brasileira de Pediatria e a Academia Americana de Pediatria recomendam o uso de aparelhos eletrônicos só a partir de dois anos. Mas é importante evitar a exposição passiva às telas por períodos prolongados e a conteúdos violentos ou inapropriados, principalmente durante as refeições e antes de dormir.

Acima dos 5 anos, o uso de dispositivos eletrônicos não deve ultrapassar duas horas por dia e deve ser só permitido após o cumprimento das tarefas diárias como o dever de casa, e mesmo assim balanceando com exercícios e outras atividades ao ar livre.

Várias pesquisas demonstram que crianças e adolescentes que ultrapassam cinco horas diárias de uso de mídias ou games têm mais probabilidade de problemas comportamentais, como baixa autoestima, isolamento e tristeza, ou transtornos mentais, como ansiedade e depressão. Também são observados sobrepeso, obesidade, sedentarismo, dificuldades de dormir e sonolência durante o dia.

Considerando a necessidade de 9-10 horas diárias de sono, mais 2 horas por dia de exercícios e atividades e pelo menos 4 a 5 horas na escola, percebemos que mais de 5 horas (que corresponde a 20% do dia) em frente a telas é considerado exagero.

Assim, qual seria a idade ideal para conceder um smartphone ao seu filho?
Dependerá de cada criança e adolescente, de sua maturação e convivência familiar, pois as regras de segurança além dos horários e os limites de uso deverão sempre ser bem compreendidas e aceitas por todos da família. Geralmente, o inicio deverá ser entre 7-8 anos, após a alfabetização escolar e midiática. Celular não é brinquedo!

Legislação

Além do Estatuto da Criança e do Adolescente, com a nova redação ao artigo 241-A (incluído pela Lei 11.829/2008), que considera crime a transmissão pela internet de conteúdos que contenham sexo explícito ou pornográfico envolvendo criança e adolescente, e da Lei 13.185/2015, que institui o programa de combate à intimidação sistemática a fatos ou imagens que depreciem, incitem à violência e à adulteração de fotos e dados com intuito de criar meios de bullying ou cyberbullying, foi aprovada recentemente a Lei 12.965/2014 (Marco Civil da Internet), que faculta aos pais a opção de livre escolha de programa para o exercício de controle parental a filhos menores como formas de proteção às mudanças tecnológicas. Mas os pais são sempre responsáveis por qualquer transtorno de conduta ou conteúdos inapropriados acessados ou transmitidos através da internet até os 18 anos.

Temos também os critérios da classificação indicativa, do Ministério da Justiça e Cidadania, com guia prático para consultas sobre jogos, filmes e vídeos e quais conteúdos são (ou não) recomendados de acordo com a idade. Os pais podem também discordar e reclamar sobre os conteúdos diretamente com as emissoras de televisão, anunciantes ou patrocinadores ou denunciar ao Ministério Público e às entidades de proteção aos direitos das crianças e adolescentes.

Recomendações:

  1. Converse com as crianças e adolescentes sobre o mundo digital. Crie regras e horários de uso de aparelhos eletrônicos para toda a família. Desconecte 1-2 horas antes de dormir e durante as refeições.
  2. Estabeleça limites sobre o que é permitido ou não acessar, sobre o que pode informar durante conversas on-line e o que publicar na internet.
  3. Ensine seus filhos como bloquear mensagens ofensivas e inapropriadas e a denunciá-las aos sites apropriados.
  4. Recomende às crianças e adolescentes que jamais forneçam a senha de acesso, não aceitem prêmios oferecidos pela internet, não concordem com chantagem, ameaça de colegas ou qualquer pessoa desconhecida on-line.
  5. Esteja ciente das senhas dos seus filhos e monitore o que eles veem e compartilham na rede periodicamente. Use filtros recomendados.
  6. Evite postar fotos da sua família no modo “público” (pelo qual qualquer pessoa pode ter acesso) em redes sociais.
  7. Estabeleça períodos de convívio entre todos da família sem o uso de tecnologias (e não as use durante as refeições, fins de semana, passeios ao ar livre).
  8. Veja a classificação indicativa de materiais audiovisuais e digitais.
Dra. Evelyn Eisenstein, pediatra e hebiatra com mais de 40 anos de experiência e diretora médica da Clínica de Adolescentes

 
 
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