A adolescência e o sono: por que eles precisam dormir melhor??


A adolescência é caracterizada por importantes mudanças biopsicossociais, cognitivas e comportamentais, inclusive em relação ao padrão do ciclo vigília-sono. Entre as diversas modificações estruturais que ocorrem no corpo, no início da puberdade, o volume de massa cerebral cinzenta existente nos lobos frontal e parietal atinge um pico, decrescendo posteriormente – e esse tecido é sensível às variações sofridas pelo organismo, inclusive relacionadas ao sono.

O sono desempenha papel importante no desenvolvimento físico e emocional dos adolescentes, que estão em um período de intenso aprendizado e diferenciação.

Estudos demonstram a necessidade de dormir de 9h a 9h e meia, em fase de crescimento intenso. A quantidade, mas também a qualidade das horas de sono noturno é importante para um melhor estado de vigília e atenção no período das manhãs.

Paradoxalmente, porém, nos tempos atuais, vários elementos concorrem para que os adolescentes não consigam dormir adequadamente, tendo em vista as pressões sociais que aumentam suas atividades, como uso excessivo de mídias digitais para conversas e trocas de opiniões sobre o que aconteceu durante todo o dia, novos relacionamentos afetivos, frequentes festas, inquietações e outras incertezas. Todos esses fatores determinam diminuição do tempo de sono noturno e consequente sonolência durante o dia.

As atividades sociais e os hábitos em geral devido às tecnologias das telas, como televisão e celulares/smartphones, têm migrado para horários cada vez mais noturnos, enquanto as aulas começam cedo, levando a importante diminuição das horas de sono e persistente débito de sono no decorrer da semana.

Início das aulas mais tarde

Por conta disso, a Associação Brasileira do Sono vem encampando uma campanha para retardar o início das aulas do ensino médio para 9h da manhã, acreditando que com essa mudança consiga melhorar o desempenho escolar dos adolescentes. Sabe-se que existem vários fatores impeditivos do ponto de vista logístico das escolas e dos pais, mas do ponto de vista fisiológico o ganho seria evidente.

A duração do sono noturno tem papel importante na saúde dos adolescentes, impacto significativo em seu bem-estar físico e psicológico e está associada a problemas comportamentais e neurocognitivos, principalmente distúrbios de aprendizagem e déficit de atenção.

Em virtude da intensa relação existente entre a qualidade do sono e a da vigília, um dos resultados mais imediatos do sono de má qualidade é a queda no rendimento no dia seguinte, provocando danos durante o período de vigília, como sonolência, flutuações do humor, ansiedade, baixa autoestima, lentidão de raciocínio, perda de memória, mau desempenho escolar e pessoal e predisposição a acidentes.

Tratamento

Entender o conceito que “horas de sono perdidas não são recuperadas” e que os períodos de sono posteriormente programados não irão compensar uma noite mal dormida é a chave para se iniciar uma boa higiene do sono.

A prática adequada de atividades físicas regulares, a redução do tempo de ociosidade em frente às mais variadas telas (celular, tablet, streaming etc.) e uma rotina mínima de seu uso no período noturno podem contribuir bastante para que o período de sono seja aprimorado e mais satisfatório.

Casos específicos podem se beneficiar do uso de medicações. Mas sempre com a orientação de um médico.

Dr. Eduardo Jorge Custódio da Silva, neuropediatra e um dos diretores da Clínica de Adolescentes


 
 
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